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TRATO VOCAL DE NESYAMUN O sacerdote egípcio Nesyamun pretendia viver por toda a eternidade. Cientistas britânicos estão tentando fazer com que isso aconteça. Usando um artefato moldado em 3D a partir do trato vocal da múmia, que foi digitalizado para estabelecer suas dimensões exatas, e uma laringe eletrônica, reproduziram um som parecido com uma vogal que lembra o balido de uma ovelha.

As vozes individuais são determinadas não apenas pelas cordas vocais, que variam de pessoa para pessoa, mas também pelo formato do trato vocal — boca, garganta e cavidade nasal —, que servem como uma espécie de câmara de eco e amplificação para os sons que as cordas vocais produzem. Para copiar o som produzido pelo trato vocal da múmia, ele foi reproduzido em suas dimensões exatas numa impressora 3D. O resultado, um tanto decepcionante, é apenas o som da voz e não o sacerdote falando realmente, até porque a língua havia perdido muito do seu volume e ela desempenha um papel fundamental na fala, alterando os sons que podemos emitir, O corpo foi preservado numa posição reclinada com a cabeça inclinada para trás. O som resultante é o que seria emitido pelo trato vocal na posição em que ele se acha no caixão. Não é, portanto, uma posição que ele assumiria para falar. Talvez seja apenas seu último suspiro. Curiosamente uma inscrição no ataúde inclue um epíteto que é traduzido como verdadeiro de voz

No futuro, os pesquisadores esperam usar modelos de computador para recriar frases completas na voz de Nesyamun. Os egiptólogos afirmam que a fonética e a música das canções são conhecidas, então, em princípio, seria possível fazê-lo emitir sons diferentes e começar a reproduzir partes do que ele realmente cantou. Antes um software de computador seria usado para construir a língua com base na média de um aparelho vocal daquele tamanho. Na foto o trato vocal da múmia na sua versão high-tech. Para ouvir o som resultante da pesquisa, clique na setinha abaixo.

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Mão da Múmia Em janeiro de 2013 a mão enegrecida cuja foto vemos ao lado chegou ao Aeroporto Internacional de Los Angeles dentro de um pacote embrulhada num pano. Foi listada como uma peça de filme de ficção científica, avaliada em 66 dólares. Mas, como descobriram as autoridades da alfândega, a mão era de uma múmia egípcia real, com quase 3.000 anos de idade, já que se supõe que seja do século VIII a.C. Aparentemente, ela foi confiscada voluntariamente pelo importador e, em dezembro de 2016, as autoridades norte-americanas a repatriaram para o Egito. Foto © Josh Denmark/ICE.

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PERNAS DE NEFERTARI Quando os arqueólogos abriram a tumba da esposa favorita de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), a rainha Nefertari, em 1904, o local já havia sido saqueado na antiguidade. Entre os objetos quebrados deixados para trás havia três pedaços de pernas mumificadas. Deduziu-se que as pernas seriam dela. O restante da múmia não foi encontrado. Ninguém havia analisado cientificamente as pernas mumificadas até agora. Uma pesquisa atual descobriu que os membros pertenciam a uma mulher que tinha altura entre 165 e 168 centímetros, compatível com o tamanho das sandálias encontradas na tumba, e que pode ter sofrido um pouco de artrite. Os resultados sugerem que as pernas eram de fato de Nefertari.

Os restos estão expostos no Museu Egípcio de Turim, na Itália. São três fragmentos: o mais longo tem pouco mais de 30 cm de comprimento e consiste em parte de um fêmur, da patela e da tíbia. A segunda e terceira seções consistem em uma parte de uma tíbia e uma parte de um fêmur, respectivamente. A dona das pernas provavelmente estava entre 40 e 60 anos de idade quando morreu, o que é consistente com a idade de Nefertari ao falecer. As artérias que correm ao lado da tíbia mostraram sinais de calcificação, possivelmente devido a arteriosclerose ou outro endurecimento dos vasos relacionado à idade. Uma análise bioquímica descobriu que as substâncias usadas no embalsamamento são as mesmas utilizadas no decorrer das XIX e XX dinastias. Além disso, o trabalho altamente especializado feito nessa mumificação, o cuidado, a atenção, a embalagem, os materiais empregados são fortemente sugestivos de alguém com um status incrivelmente alto, o que reforça a tese de tratar-se de Nefertari. Há alguma possibilidade de que deslizamentos de terra e chuvas fortes possam ter levado as pernas de outra pessoa para a tumba, mas isso é pouco provável pois ela está localizada em terreno alto. A conclusão dos pesquizadores foi a de que, embora não exista certeza absoluta, o cenário mais provável é que os joelhos mumificados eram de Nefertari e isto é tudo o que restou da lendária rainha.
Foto © Habicht/SWNS.com

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PASSAPORTE DE RAMSÉS II Em 1974, os restos mortais de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C. ) receberam um passaporte egípcio, quase 3 mil anos após sua morte, para que ele pudesse ser transportado até Paris para um tratamento por irradiação para evitar um crescimento de fungos em sua múmia. No campo correspondente à profissão foi inscrito: King (deceased), ou seja, Rei (falecido). No ano anterior o médico francês Maurice Bucaille que estudava seus restos mortais disse que a múmia estava ameaçada por fungos e precisava de tratamento urgente para evitar sua total decomposição. As leis francesas determinavam que a entrada e o transporte pelo país exigiam um passaporte válido. Para cumprir as leis locais, o governo egípcio emitiu um passaporte para o faraó.

Ramsés II, que governou o Egito por 67 anos, recebeu tratamento especial no Aeroporto Le Bourget. O jornal New York Times de 27 de setembro de 1976 noticiou que o avião militar francês que trouxe os restos mortais do Museu do Cairo foi recebido por um contingente da força aérea e pela Guarda Republicana, o equivalente francês a uma guarda de honra da Marinha dos Estados Unidos. Ambos apresentavam armas enquanto o caixão era colocado em um caminhão. A múmia foi saudada pela Secretária de Estado para Universidades, Alice Saunter-Seite. A televisão francesa transmitiu a cerimônia, mas nem todos os espectadores aplaudiram o acontecimento. Um irado morador de Paris declarou: É ridículo gastar nosso dinheiro com alguém morto há 3000 anos, quando nós, que ainda respiramos, não temos o suficiente, especialmente sob a austeridade do governo.

Em seguida o corpo foi levado ao Museu Etnológico de Paris para ser inspecionado pelo professor Pierre-Fernand Ceccaldi, o cientista forense chefe do Laboratório de Identificação Criminal de Paris. Durante o exame, Ceccaldi observou que o cabelo estava surpreendentemente preservado e que a pigmentação do faraó demonstrava que ele era uma pessoa de pele clara com cabelo ruivo ondulado. O exame também revelou evidências de ferimentos, fraturas e artrite anteriores, o que teria deixado Ramsés com as costas curvadas nos últimos anos de sua vida. Para outra notícia sobre o cabelo de Ramsés II clique aqui e leia o penúltimo item da página. A imagem acima é uma criação artística do passaporte, pois o documento real não está disponível publicamente. Foto © HeritageDaily.

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CRÂNIO DE SENÁQUETE O faraó Sanáquete (c. 2649 a 2630 a.C.) pode ter sido o mais antigo gigante conhecido. Cientistas investigaram um esqueleto encontrado em 1901 em uma tumba perto de Beit Khallaf, no Egito. Havia sido estimado que os ossos datam da III Dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.) e que pode ter pertencido àquele faraó. Ele teria 1,987 m de altura, ao passo que a altura média dos homens nessa época era de 1,70 m. Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.), o faraó mais alto conhecido até hoje e que viveu mais de 1000 anos depois de Sanáquete, tinha apenas 1,75 m de altura.

A existência de gigantes não se trata apenas de um mito. O crescimento acelerado e excessivo, uma condição conhecida como gigantismo, pode ocorrer quando o corpo gera muito hormônio do crescimento. Isso geralmente ocorre por causa de um tumor na glândula pituitária do cérebro. Os ossos longos deste esqueleto mostram evidências de crescimento exuberante, que são sinais claros de gigantismo. Este seria o caso mais antigo conhecido dessa doença no mundo. Nenhum outro antigo faraó egípcio era conhecido como gigante. Na atualidade Senáquete não seria descrito como um gigante. Um jogador de basquete da NBA alcança a faixa dos 2,10 m de altura. Então, a definição que os cientistas deram para descrever o faraó está baseada em seu diagnóstico de gigantismo. No antigo Egito, pessoas muito altas não parecem ter tido qualquer vantagem ou desvantagem social particular. Os anões, por outro lado, eram tidos em alta estima e, às vezes, serviam como assistentes do faraó, ou eram considerados divinos. Na ilustração, o crânio de Senáquete.